Propósito Inabalável




(texto publicado originalmente no jornal Carta Aberta (2008/set).

No curso de tradutor e intérprete (PUCPR, 1997-2000), Rosemary Arrojo palestrou sobre as nuances da profissão e ilustrou comentando cinco traduções de Hamlet. Uma, destinada ao “povão”, transpôs o texto erudito de Shakespeare como prosa vulgar, mostrando que as diferentes traduções não traíram o sentido original (apesar do ditado italiano: “traduttore, traditore”).
A riqueza dos textos bíblicos é ainda maior e os linguistas sabem da dificuldade para transpor todo o sentido para nossas línguas e culturas, porque traduções perfeitas são basicamente impossíveis. Conheço bem o assunto: cheguei a passar dois dias trabalhando sobre uma única frase, para produzir uma obra prima de tradução.
Voltando à Bíblia: às vezes as traduções de um mesmo texto são tão diferentes que algo parece estar errado. Tomemos Isaías 32.8:
ARC: “Mas o liberal projeta coisas liberais e pela liberalidade está em pé”
EC: “Mas o nobre projeta coisas nobres e por nobres atos persevera”.
Vozes: “Mas o nobre pensa em coisas nobres, persevera em coisas nobres”.
NTLH: “Mas quem é direito faz planos honestos e é correto em tudo que faz”
BV: “Mas os homens generosos – vejam a diferença – planejam maneiras de ajudar os necessitados e por isso Deus os abençoará”.
Isso ajuda a compreender que “a letra mata, mas o espírito vivifica” (2Co 3.6) e que não temos como aplicar o legalismo dos tempos de Moisés aos nossos dias (nem por que apegar-nos a qualquer legalismo atual). Ainda bem, porque a salvação “não vem das obras, para que ninguém se glorie” (Ef 2.9), mas Deus, que sonda os corações e diferencia entre pensamentos e intenções, trata com justiça a cada um de nós.
O que precisamos é que o Espírito Santo vivifique a Palavra em nós, pois “os que são guiados pelo Espírito são filhos de Deus” (Rm 8.14,16). Uma vez treinados em discernir a voz de Deus e a visão dada por Ele, podemos chegar à “inabalabilidade”.
Inabalabilidade é a condição para perseverarmos em algo que desejamos alcançar: consiste em ter (a) foco no objetivo, (b) interesse nos detalhes e (c) convicção de que o resultado é (c.1) útil e (c.2) justifica o esforço. Esses são requisitos essenciais para perseverar. Afinal, quem quereria perseverar em algo que não está no seu foco, cujos detalhes não lhe interessam e cujos resultados não lhe parecem úteis ou não justificam o esforço, causando mais trabalho e exigindo mais sacrifício do que os benefícios que advirão?   
Aos dezesseis anos tio Hélio escreveu num canto de papel rasgado e me deu algo que não valia um centavo, como objeto. Mas seu ato de amor frutifica para a eternidade. Este era o texto de ouro:
“O homem que triunfa é o que vê o alvo e enfrenta os obstáculos”.
Isso é ser inabalável! Isso é ser nobre, liberal, direito, generoso, de bem! Isso cumpre Isaías 32.8 (ARA): “Mas o nobre projeta coisas nobres e na sua nobreza perseverará”. Ou, conforme a BKJ: “Quanto ao homem nobre, nobres são todos os seus desígnios; graças aos seus feitos nobres permanece íntegro e firme”.
Estabeleça altos ideais e persevere. Peça ao Espírito Santo para iluminar o seu espírito, dando visão, propósito ou alvo. Então mantenha o seu projeto ou objetivo em foco, tenha interesse e dedique-se aos detalhes e circunstâncias que digam respeito a ele. Isso embasará a convicção de que o resultado é útil e necessário para pessoas ou grupos; de que o esforço que você despenderá para alcançar o objetivo vale a pena, porque produzirá frutos para sempre. Então prepare-se para enfrentar os obstáculos. “O compromisso com a excelência exige enorme quantidade de esforço” (Carta Aberta, 2008/ago).
Não entregue o seu futuro em sacrifício no altar da mediocridade!
Lembre-se: “Deus acredita no teu potencial – e Ele não pode estar enganado!”.

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