Fevereiro de amor e luto



Fevereiro sempre foi um mês significativo para tio Jó. O deste ano, então... ultrapassou os limites!

Chegou dois de fevereiro e era o aniversário daquela que ele procurou provocar no ano passado, quando escreveu na areia uma declaração dizendo que ainda a amava, mas que esqueceu o nome dela depois de ter escrito na praia, porque o vento levou!

A vida é um sopro!

Como Doçura era extremada nas reações, não respondia aos e-mails de tio Jó desde que, depois de vê-la num relacionamento ostensivamente perigoso, advertiu que se afastasse, porque aquela pessoa maligna fora escolhida para destruir a vida dela.

Tio era o confidente e mentor que Doçura havia escolhido. Era o conselheiro de que ela precisava. Era o santo amor que se empenhava em protegê-la, em ajudá-la, em compreendê-la, em amá-la sem cobrar nada em troca. Pelo contrário, sempre que Doçura enfrentava um momento difícil, ele corria em seu socorro. No entanto, considerava uma questão de respeito não pressionar. Se ela não queria papo, ele a ajudava em silêncio. Era uma forma de amor similar ao de Jesus.

Como rogava muito a Deus por proteção da moça, certa noite viu Jesus envolvendo-a de tal forma que ela estava invisível até para ele, que a amava como a si mesmo. Era como uma cratera na plena escuridão espiritual, mas Jesus a guardava no centro dela, sem no entanto impedir que nas bordas da cratera certo demônio se esgueirasse entre as reentrâncias e ficasse escondido entre as moitas, procurando um jeito de atacá-la.

Tio Jó ficou feliz, mas a noite seguinte revelou algo extremamente preocupante: na mesma cratera, Doçura conseguiu desvencilhar-se da proteção magnífica de Jesus e decidiu jogar-se numa espécie de poço sem fundo. Era como um poço artesiano estreito. Ela caminhou até ele e se jogou! O Espírito Santo se posicionou na boca do poço. Com as vestes brancas iguais às de Jesus, estendeu as mãos prontas para socorrê-la, mas ela não quis voltar!

Tio Jó despertou de repente, assustadíssimo! Levantou-se de madrugada e intercedeu por ela, mas as labutas diárias o mantiveram ocupado. Quando a noite chegou e o cansaço extremo o jogou na cama, de repente teve um sonho pior: sua querida Doçura viu um riacho com águas amarelas e barrentas, muito sujas, e jogou-se naquilo, mergulhando de vez!

Mais uma vez, tio Jó despertou de repente, com o coração aos saltos, e se levantou impressionado por ela não ter escolhido levantar-se para sobreviver!

Como tio Jó estava novamente na “Ilha do Bem” (Olkhon), no lago Baikal, deu um jeito de contatar os amigos no Brasil. A sobrinha deu o contato de Lara, a melhor amiga de Doçura.

Não é irônico? Lara era a russa por quem o doutor Jivago tinha paixão! Agora tio Jó estava na mesma Rússia siberiana e fazia contato com Lara!

Não era impressionante? Era dois de fevereiro!

Ele desejou romper o abismo da relação para cumprimentar Doçura, mas foi prudente. Enviou um áudio para Lara dizer à amiga que ele a cumprimentava pelo aniversário.

MAS a resposta o devastou!

Doçura estava muito mal. Teve uns episódios de tontura e foi diagnosticada com um tipo desconhecido de tumor cerebral, formando uma capa de gel que encobria desde o cerebelo até o lobo frontal, por dentro das meninges!

Lara enviou umas fotos. A Doçura linda e simpática que ele tanto amava agora parecia um trapo jogado sobre a cama!

Tio Jó não quis acreditar que aquele imenso talento viesse a perder-se! Começou a gravar mensagens de estímulo. No dia nove, gravou uma mensagem de sete minutos e enviou. Seu estímulo concluía falando em cumprir o seu propósito de vida até o último suspiro e até o último batimento cardíaco.

Ela ouviu três vezes seguidas.

Ao terminar a terceira, Doçura parou de suspirar e aquele batimento cardíaco foi o último!

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